Toxina botulínica e suas indicações médicas
A toxina botulínica é produzida pela bactéria anaeróbica Clostridium botulinum e é uma das substâncias biológicas mais venenosas conhecidas e está associada ao botulismo, que pode ser resultado da infecção pela bactéria pela ingestão de alimentos contaminados.
O potencial de uso terapêutico da toxina botulínica foi reconhecido pela primeira vez por Justinus Kerner, que em 1817, reconheceu que a toxina paralisava os músculos esqueléticos e a função parassimpática e propôs que a toxina botulínica poderia ser usada como agente terapêutico. Em 1981, com o relato de injeções de toxina botulínica nos músculos oculares para corrigir estrabismo, feito por Alan Scott, que o potencial terapêutico desse agente foi definitivamente reconhecido. Em 1989, após extensos testes laboratoriais e clínicos sobre a segurança e eficácia da toxina botulínica do tipo A (Botox, Allergan), a Food and Drug Administration (FDA) aprovou-a como agente terapêutico em pacientes com estrabismo, blefaroespasmo e outros distúrbios do nervo facial, incluindo espasmo hemifacial. Em 2000, o FDA aprovou a toxina botulínica para o tratamento da distonia cervical e das linhas de expressão da glabela.
Embora sua aplicação mais ampla ainda seja no tratamento de distúrbios manifestados por contrações musculares anormais, excessivas ou inadequadas, como na espasticidade e nas distonias, seu uso está bem difundido e inclui o tratamento de uma variedade de doenças neurológicas, oftalmológicas, gastrointestinais, urológicas, ortopédicas, dermatológicas, secretoras, dolorosas e estéticas, como listados abaixo:
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Distonia: blefaroespasmo, distonia oromandibular, distonia cervical, distonia laríngea (disfonia espasmódica), distonia de membros, distonia específica da tarefa (por exemplo, cãibras do escritor ou outras cãibras ocupacionais), outras distonias focais/segmentares (primárias, secundárias), espasmo hemifacial
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Espasticidade (em sequelas de acidente vascular cerebral e traumatismo craniano, paralisia cerebral, esclerose múltipla, e lesão medular)
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Estrabismo
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Bruxismo e disfunções da articulação temporo-mandibular
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Enxaqueca crônica
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Síndromes dolorosas miofasciais
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Acalásia (espasmo do esfíncter esofágico inferior)
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Espasmo do constritor inferior da faringe
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Espasmo do esfíncter de Oddi
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Bexiga espástica, dissinergia detrusor-esfíncter
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Dor anal por contração exacerbada do esfíncter
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Vaginismo
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Ptose protetora
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Hiperlacrimação
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Sialorreia
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Hiperidrose
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Fissura anal
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Uso estético (rugas, sulcos da testa, linhas de expressão, ''pés de galinha'', linhas de platisma, assimetria facial)
Apesar de seu comprovado valor terapêutico, existem muitos cuidados os quais os médicos que utilizam a toxina botulínica na sua prática clínica devem tomar para minimizar os riscos potenciais associados à toxina. Somado a isso, os médicos injetores da toxina botulínica devem se familiarizar completamente com os distúrbios que pretendem tratar e com a anatomia no local da injeção.
Além de complicações ocasionais, geralmente relacionadas à fraqueza local, uma das principais limitações do tratamento com toxina botulínica é seu alto custo. No entanto, vários estudos analisando o custo-benefício do tratamento com esse agente concluíram que a perda de produtividade devido à distonia ou espasticidade não tratada e o custo de medicamentos, fisioterapia ou cirurgia mais do que justificam o gasto financeiro associado ao tratamento com toxina botulínica.
Finalmente, a toxina botulínica demonstrou ter um efeito positivo na qualidade de vida dos indivíduos submetidos à sua aplicação.