Dor aguda
A dor aguda é uma resposta fisiológica a estímulos nocivos que podem se tornar patológicos, caracterizada pelo início súbito, limitada no tempo e frequentemente causada por lesão, trauma ou tratamentos médicos, como cirurgia. Além disso, a dor aguda provoca uma alteração significativa na função típica do paciente.
Geralmente, a dor aguda se resolve em um intervalo de dias a semanas. Dessa forma, para ser considerada dor aguda, a dor deve ter duração inferior a um mês. Quando a dor está presente por mais de 12 semanas, ela é considerada crônica e a abordagem deve ser conduzida de acordo.
Quando a pessoa possui uma dor crônica e apresenta crises de agudização, essa não é considerada uma dor aguda, mas sim uma exacerbação de uma doença crônica.
Avaliação e diagnóstico do paciente que apresenta dor aguda
Na avaliação de pacientes que apresentam dor aguda, além de uma história médica e exame físico adequados, as considerações iniciais devem incluir:
• Localização, intensidade e gravidade da dor, além dos sintomas associados;
• Tipos de dor, por exemplo: dor somática (aguda ou pontada), visceral (dor ou pressão) e dor neuropática (queimação, formigamento ou irradiada)
• Fatores psicológicos, incluindo histórico pessoal e/ou familiar de transtorno por uso e abuso de substâncias (lícitas e ilícitas), incluindo medicamentos.
Na avaliação é de extrema importância a definição do diagnóstico da doença ou disfunção associada ao quadro doloroso. Com base no diagnóstico, o tratamento deve ser baseado em abordagens com maior evidência científica.
Tratamento da Dor Aguda
O desenvolvimento de um plano de tratamento inclui o esclarecimento sobre a característica da dor apresentada, os riscos e benefícios das terapias medicamentosas e não medicamentosas, além do pacto com o paciente sobre os seguintes aspectos:
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Estabelecimento de metas mensuráveis para o controle álgico.
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Uso das terapias farmacológicas e não farmacológicas, com um caminho claro para a progressão do tratamento ao longo do tempo..
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Alinhamento das expectativas quanto ao grau e à duração da dor durante a terapia.
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Conhecimento do objetivo do tratamento (melhoria da função para o estado inicial ou pré-lesão, e, não necessariamente, a resolução completa da dor).
Apesar de todo desconforto e incerteza que a crise dolorosa aguda desencadeia, é fundamental que o paciente esteja seguro que:
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A dor aguda geralmente melhora dentro de alguns dias ou semanas com retorno à atividade normal em plenas condições.
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Na maioria dos casos, a dor aguda não se deve a doenças ou lesões graves, e o permanecer o mais ativo possível e limitar o repouso no leito ajudará a maximizar a recuperação.
O tratamento deve ser individualizado de acordo com aspectos clínicos, características da dor, possíveis contraindicações, experiências prévias do paciente e suas crenças e seus valores.
Tratamento não farmacológico
O tratamento não farmacológico deve ser considerado como terapia de primeira linha para dor aguda, a menos que a história natural da causa da dor ou o julgamento clínico justifiquem uma abordagem diferente. Essas terapias geralmente reduzem a dor com menos efeitos adversos e podem ser usadas em combinação com medicamentos não opioides para aumentar a probabilidade de sucesso do tratamento. Exemplos podem incluir, mas não estão limitados a:
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Gelo, calor, posicionamento, órtese, envolvimento, talas, e exercícios direcionados para o tipo e o local da dor.
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Massoterapia, estimulação tátil, e acupuntura/acupressão.
Tratamento farmacológico
O tratamento farmacológico não opioide deve ser usado com terapia não farmacológica. Ao iniciar a terapia farmacológica, os pacientes devem ser informados sobre o uso adequado da medicação, importância de manter outras terapias e expectativa de duração e grau de melhora dos sintomas. As opções de tratamento, pelo tipo de dor, estão listadas abaixo:
1) Dor somática
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Analgésicos simples.
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Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs).
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Corticosteroides.
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Opções terapêuticas: gabapentina/pregabalina, relaxantes musculares, inibidores da recaptação de serotonina e norepinefrina, inibidores seletivos da recaptação de serotonina e antidepressivos tricíclicos.
2) Dor visceral
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Analgésicos simples.
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Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs).
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Corticosteroides.
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Opções terapêuticas: antiespasmódicos, inibidores da recaptação de serotonina e norepinefrina, anestésicos tópicos e antidepressivos tricíclicos.
3) Dor neuropática
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Gabapentina/Pregabalina.
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Inibidores da recaptação de serotonina e norepinefrina.
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Antidepressivos tricíclicos.
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Outras alternativas: outros anticonvulsivantes, baclofeno, bupropiona, capsaicina de baixa concentração, inibidores seletivos da recaptação da serotonina e lidocaína tópica.
Uso dos opioides no tratamento da dor aguda
O tratamento farmacológico com opioides deve ser reservado para situações nas quais a dor aguda é resultante de lesões graves ou de condições médicas, como procedimentos cirúrgicos, ou como alternativas aos outros tratamentos medicamentosos não opioides quando estes são ineficazes ou contraindicados.
Quando indicado, os opioides devem ser prescritos na menor dose efetiva pela menor duração efetiva necessária para controlar adequadamente a dor. Pacientes que não usaram opioides recentemente ou nunca usaram podem ter baixa tolerância a essa classe de medicamentos com efeitos sedativos.
A terapia com opioides de curta duração pode ser preferida como terapia de primeira linha em circunstâncias específicas, como o período pós-operatório imediato. Na maioria dos casos, os opioides devem ser usados como adjuvantes de terapias adicionais, e não isoladamente.
É fundamental que ocorra uma comunicação efetiva entre os profissionais de saúde para garantir o controle ideal e adequado da dor.
O risco de abuso por opioides deve ser considerado e monitorizado pela equipe médica e multiprofissional.
É interessante evitar o uso de opioides de ação prolongada, como metadona, oxicodona e fentanil.
Quando o paciente utiliza medicamentos que causam depressão do sistema nervoso central (por exemplo, benzodiazepínicos e hipnóticos sedativos) ou pacientes que usam álcool, ele deve ser aconselhado a evitar o uso de álcool e/ou outros sedativos durante o uso de opioides, pois as combinações podem aumentar o risco de depressão respiratória e morte.
Deve ser estabelecido, junto com o paciente, um cronograma planejado para desmamar a terapia com opioides, concomitante com redução ou resolução da dor.
As decisões sobre qual estratégia de controle da dor empregar devem envolver discussão completa e troca mútua de informações entre o médico e o paciente.
Reavaliação da dor
A reavaliação de pacientes é importante, especialmente quando houve necessidade do uso de opioides para o controle da dor.
Caso os pacientes apresentem dor persistente, o médico deve reavaliar o diagnóstico inicial e considerar o seguinte:
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Características da dor
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Métodos de tratamento utilizados
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Razões para a persistência da dor
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Necessidade de referenciamento para um médico especialista
Referências bibliográficas;
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